quinta-feira, 2 de abril de 2009

Entendendo a Crise- Mercados o Estado e Hipocrisia


Entendendo a Crise- Mercados o Estado e Hipocrisia


por Noam Chomsky e Sameer Dossani

10 de Fevereiro, 2009—Noam Chomsky é um notável lingüista, autor e especialista em política extrangeira.Sameer Dossani o entrevistou sobre a crise global e suas raízes.
SAMEER DOSSANI: Em qualquer primeiro ano de classe de economia, nós somos ditos que os mercados têm seus altos e baixos, então a recessão corrente é talvez nada além de comum. Mas este virada baixa é interessante por duas razões: Primeiro, desregularização do mercado nos anos 80 e 90 fizeram os períodos do boom artificialmente altos, então este período acaba por ser muito mais profundo do que o que realmente seria. Segundamente, a despeito de uma economia que explodiu desde 1980, a maioria da classe trabalhadora residente dos Estados Unidos tem visto suas rendas estagnarem – enquanto os ricos tenham se dado muito bem, o resto do país não avançou absolutamente em nada. Dada a situação, minha suposição é que planejadores econômicos estão mais para voltar para alguma forma de Keynesianismo, talvez não muito diferente dos Bretton Woods, sistema que esteve em vigor de 1948-1971. O que você acha?
NOAM CHOMSKY: Bem, basicamente eu concordo com o seu ponto. Na minha visão, a quebra do sistema Bretton Woods no início dos anos 70 é provavelmente o maior dos eventos internacionais desde 1945, muito mais significante em suas implicações que a quebra da União Soviética.
Desde aproximadamente 1950 até o início dos anos 70 houve um período de crescimento econômico sem precedentes e equilibrado crescimento econômico. Então a classe mais baixa também cresceu - de fato eles até se deram um pouco melhor- que a classe mais alta. Também foi um período de limitada, mas reais formas de benefício para a população. E de fato, indicadores sociais, medidas para a saúde as sociedade, eles cresceram numa proporção quase igual ao resto. Conforme o crescimento aumentou, indicadores sociais também subiram , como você esperaria. Muitos economistas chamaram esta época de Era de Ouro do capitalismo – eles deveriam chamar isso de capitalismo estatal porque os gastos do governo era o maior motor de crescimento e desenvolvimento.
No meio dos anos 70 a estória mudou. Restrições de Bretton Woods nas financias foram desmontadas, financias foram libertadas, a especulação estourou, imensas quantidades de capital começaram a ir para especulações contra moedas a outras manipulações de papelada, e a economia inteira se tornou financiada. O poder da economia mudou para as instituições financeiras, longe da fabricação. E desde então, a maioria da população tem tido tempos bem duros; de fato este deve ser um período único na história Americana. Não há nenhum outro período aonde salários reais – salários ajustados com a inflação – tenham mais ou menos se estagnado por tanto tempo para a maioria da população e aos quais os padrões de vida tenham estagnado ou declinado. Se você olhar para indicativos sociais, eles seguem crescimento até bem próximo de 1975, e naquele ponto começou seu declínio, tanto que agora nós voltamos bem próximos ao nível de 1960. Havia crescimento, mas era altamente desigual – só ia para um número muito pequeno de bolsos. Houveram breves períodos aos quais a situação virou novamente, então durante a bolha de tecnologia, que foi uma bolha nos últimos anos do governo Clinton, os salários melhoraram e o desemprego diminuiu, mas estas são desvios ligeiros em uma tendência constante de estagnação e declínio da maioria da população.
Crises financeiras aumentaram durante este período, como previsto por um número de economistas internacionais. Uma vez que finanças são um ligeiro desvio numa tendência que é constante, havia a expectativa de haver um aumento das crises financeiras, e isso foi o que aconteceu. Essa crise acabou por estourar nos países ricos, então as pessoas falam sobre isso, mas isso tem acontecido regularmente pelo mundo – algumas destas muito sérias – e não estão apenas aumentando em freqüência, mas estão se tornando mais profundas. E foram previstas, e discutidas e há boas razões para isso.
Mais ou menos 10 anos atrás havia um livro muito importante chamado “ Global Finance at Risk” , de dois bem conhecidos economistas John Eatwell e Lance Taylor. Neste eles se referem ao bem conhecido que há ineficiências básicas intrínsecas nos mercados. No caso de mercados financeiros eles praticam os preços mais baixos ao risco. Eles não contam com riscos sistemáticos – custos sociais em geral. Então por exemplo se você me vende um carro, eu e você talvez façamos uma boa barganha, mas nós não contamos com os custos à sociedade - poluição, congestão a aí vai. Em mercados financeiros, isto significa que os riscos são diminuídos, então há mais riscos do que o que aconteceria em um sistema eficiente. E isso é claro que leva ‘as quebras de mercado. Se nós tivéssemos uma regulação eficiente, você poderia controlar e prevenir as ineficiências do mercado. Se você desregular você maximiza as ineficiências do mercado.
Isto é puramente economia elementar. Eles discutem isso neste livro; outros também discutiram o mesmo assunto. E isso é o que está acontecendo. Os riscos foram diminuídos para o mais barato, consequentemente mais riscos foram tomados do que os deveriam ser, e mais cedo ou mais tarde isso iria quebrar. Ninguém preveu exatamente quando, e a profundidade da quebra é um pouco surpreendente. Isto é em parte por causa da criação de instrumentos financeiros exóticos que eram desregulados, significando que ninguém realmente sabe quem deve o que a quem.. Foi tudo separado em maneiras malucas. Então a profundidade da dívida é bem severa – não estamos ainda no fim – e os arquitetos disso tudo são as pessoas que estão agora designando as políticas econômicas de Obama.
Dean Baker, um dos poucos economistas que viu tudo o que estava por vir com tudo isso, apontou que isto é quase que como escolher Osama Bin Laden para dirigir a tão chamada guerra contra o terror. Robert Rubin e Lawrence Summers, secretários do tesouro de Clintos, estão juntos dos principais arquitetos da crise. Summers interveio fortemente para prevenir qualquer regularização dos derivados e de outros instrumentos exóticos. Rubin quem o precedeu estava diretamente ligado em minar o ato Glass-Steagall, o que é bem irônico. O ato de Glass-Steagall protegeu bancos comerciais de investimentos de risco em firmas, firmas de seguros, e etc. , o que meio que protegeu o centro da economia. Isto se quebrou em 1999 imensamente pela influência de Rubin.Ele imediatamente deixou o departamento do tesouro e se tornou o diretor do Citygroup, o qual se beneficiou da quebra de Glass-Steagall ao expandir e se tornar um “supermercado-financeiro” como eles assim o chamaram. Só para aumentar a ironia ( ou a tragédia se você prefere) Citigroup está agora tirando imensos subsídios de pagamentos de impostos para tentar manter-se e simplesmente nas últimas semanas anunciou que está quebrando. Isto retorna ao ponto de tentar proteger seu sistema bancário de investimentos de risco. Rubin renunciou na desonra – ele é fortemente responsável por isso. Mas ele é um dos principais conselheiros econômicos de Obama, Summers é outro; O protegido de Summers, Tim Geithner é o Secretário do Tesouro .
Nada disso não foi realmente antecipado. Haviam muitos bons economistas como diz David Felix, um economista internacional que têm escrito sobre isto a anos. E as razões são conhecidas : mercados são ineficientes ; eles diminuem os preços dos custos sociais. E instituições financeiras reduzem os custos dos riscos sistêmicos. Então diga que você é um CEO de Goldman Sachs. Se você está fazendo o seu trabalho corretamente, quando você faz um empréstimo, se assegura que os riscos são baixos, então se você quebrar, você vai ser capaz de superar isto.Você se importa com o risco com você mesmo, você coloca o preço disto no pacote. Mas você não coloca o preço do risco sistêmico, o risco que todo o sistema financeiro corroer-se-á. Isso não faz parte dos seus cálculos.
Bem, isto é intrínseco nos mercados – eles são ineficientes. Robin Hahnel tinha alguns muito bons artigos sobre isto recentemente em jornais econômicos. Mas este é o primeiro ano que o curso de economia apresenta este material - mercados são ineficientes; estes são algumas das suas ineficiências; há muitas outras. Eles podem ser controlados por algum grau de regulação, mas isto foi desmantelado através de atos de fanatismo religioso sobre mercados eficientes, o qual faltou a sustentação empírica e a base teórica; Então agora está caindo.
As pessoas falam sobre um possível retorno ao Keynesianismo, mas isso é por causa de uma recusa sistemática em prestar atenção à maneira que a economia funciona. Há muito o que se lamentar agora em “socializando” a economia ao afiançar instituições financeiras. Sim, de certa forma isso está mesmo acontecendo, mas é apenas uma pequena parte do que se passa. A economia toda tem sido socializada desde – bem, na realidade nem sempre, mas com certeza desde a Segunda Guerra Mundial. Essa mitologia de que a economia é baseada em iniciativas empreendedoras e escolha do consumidor, bem, ok, até certa extensão isto é o que acontece. Por exemplo, ao final do mercado, você pode escolher entre um certo dispositivo eletrônico ou outro. Mas o núcleo da economia depende fortemente do setor do estado ,e é transparentemente desse jeito. Então para exemplificar a última explosão econômica que foi baseada em tecnologia de informação – de onde isto vem? Computadores e Internet. Computadores e Internet estavam quase que inteiramente dentro do estado por praticamente 30 anos – pesquisa, desenvolvimento ,buscas, outros serviços- antes eles eram por fim cedidos à empresas privadas para produção de profit. Isto não era uma coisa instantânea, mas isso era aproximadamente o que se passava. E este é praticamente o retrato do núcleo da economia.
O setor do estado é inovador e dinâmico. Isto é fato, numa linha desde a eletrônica à farmacêutica, às novas indústrias baseadas em biologia . A idéia é a que o público deve de pagar os custos e levar os riscos, e finalmente, se há algum lucro, você o entrega às tiranias privadas, as corporações. Se você tivesse que “encapsular” a economia em uma frase, este seria o tema principal. Quando você olha para os detalhes é claro, é uma foto mais complicada, mas este é o tema principal. Então sim, socialização de risco e custo ( mas não lucro ) é parcialmente novo para as instituições financeiras, mas é apenas uma adicional ao que vêm se passado pelo processo todo.
“Double Standard”/Duplo Standard, ou seja, a mesma coisa é uma coisa pra uns e outra para outros...
DOSSANI: Conforme consideramos o retrato da queda de algumas dessas principais instituições financeiras, nós faríamos bem se lembrássemos que algumas destas mesmas políticas fundamentalistas de mercado já foram exportadas em torno do globo. Especialmente, o Fundo Monetário Internacional tem forçado um modelo de crescimento exportador-orientado sobre muitos países, o que significa que a corrente queda no consumo dos Estados Unidos terá forte impacto em outros países. Ao mesmo tempo algumas regiões do mundo, particularmente o Cone-sul da América do Sul, estão trabalhando em repudiar as políticas fundamentalistas do FMI e construir alternativas. Será que você poderia falar um pouco sobre as implicações internacionais da crise financeira? E como é que algumas das instituições responsáveis por esta bagunça toda como o FMI, estão usando isso tudo como uma oportunidade de re-obter a credibilidade no palco do mundo?
CHOMSKY: É quase que um choque se notar que o consenso em como lidar com a crise nos países ricos é quase o oposto do consenso em como os países pobres devem lidar com uma semelhante crise econômica. Então quando os tão chamados países em desenvolvimento têm crises financeiras, as regras do FMI são : aumento das taxas de interesse, reduza ao mínimo o crescimento econômico, aperte os cintos, pague suas dívidas ( a nós), privatize, e etc. Isto é o oposto do que é prescrito aqui. O que se prescreve por aqui são taxas de interesse mais baixas, esbanje o dinheiro do governo em estimular o crescimento econômico, nacionalize ( mas sem usar a palavra ) , e etc. Então sim, há um jogo de regras para os fracos, e um jogo diferente de regras para os poderosos. Não há nada de novo nisto.
Como para o FMI, este não é uma instituição independente. É praticamente uma filial do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos - não oficialmente, mas é basicamente assim que funciona. O FMI foi descrito muito corretamente por um Diretor Executivo dos EUA como “o impulsionador de crédito da comunidade”. Se um empréstimo ou investimento de um país rico para um país pobre vai mal, o FMI se assegura que os investidores não sofrerão. Se tivéssemos um sistema capitalista, ao qual é claro os ricos e seus protetores não querem, isso não funcionaria assim.
Por exemplo, suponhamos que eu te empresto dinheiro, e eu sei que você talvez não seja capaz de me pagar .Por conta disso, eu imponho taxas bem altas de interesse, pois pelo menos, eu vou levar essas taxas caso você quebre. Então, suponhamos que em algum ponto você não possa pagar o que me deve. Bem em um sistema Capitalista, isto seria meu problema. Eu fiz um empréstimo de risco, eu fiz muito dinheiro com isso com altos interesses e agora você não pode me pagar? Ok, duro para mim .Isto é o Sistema Capitalista. Mas não é assim que o nosso sistema funciona. Se investidores fazem empréstimos de risco digamos para Argentina, e recebe altos juros, e depois a Argentina não pode pagar de volta, bem isto é quando o FMI entra na história, o impulsionador de crédito da comunidade, e diz que o povo da Argentina, estes têm que pagar esta dívida. Agora se você não pode me pagar um empréstimo, eu não te digo que os seus vizinhos têm que me devolver este dinheiro. Mas é isto que o FMI diz. O FMI diz que o povo do país têm que pagar pelo débito que não tem nada a ver com eles, que foi de modo geral dado a ditadores, ou elites ricas, que enviaram este dinheiro para Suíça, ou algum outro lugar, mas vocês , os pobres povos vivendo no país, vocês têm que devolver esse dinheiro. E mais além, se eu te empresto dinheiro, e você não tem como pagar, em um sistema capitalista, eu não posso pedir aos meus vizinhos que me paguem, mas o FMI assim o faz, nomeadamente o contribuinte dos EUA.Eles ajudam a assegurar que os emprestadores e investidores estão protegidos. Então sim, são os impulsionadores de crédito da comunidade .É um ataque radical nos princípios básicos do capitalismo, tanto quanto todo o funcionamento da economia baseados no setor do estado é,mas isto não muda a retórica. É meio que escondido do trabalho pesado.
O que você disse sobre o cone do sul é exatamente correto. Pelos últimos muitos anos eles têm tentado se libertar desse desastre neoliberal. Uma das maneiras foi, por exemplo a Argentina simplesmente não pagou seus débitos, ou ao invés disso, reestruturou-o e pagou parte dele. E alguns como o presidente da Argentina disse que “nós vamos nos livrar do FMI” através deste método. Bem, o que estava acontecendo com o FMI? O FMI estava em apuros .Estava perdendo capital, e perdendo devedores, e assim perdendo sua habilidade de funcionar como o impulsionador de crédito da comunidade.Mas esta crise está sendo usada para reestrutura-lo e revitaliza-lo.
Também é verdade que países são dirigidos para exportação de produtos, na realidade exportação de material cru. Isso é verdade até no mais bem sucedido deles, Chile, que é considerado o queridinho. A economia Chilena têm sido fortemente baseada em exportação de cobre. A maior companhia de cobre do mundo é a CODELCO, a companhia de cobre nacionalizada- nacionalidade pelo Presidente Salvador Allende e ninguém desde então tentou privatiza-la totalmente por ser tamanha vaca de dinheiro.Ela tem sido minada, então controla menos da exportação de cobre que controlava no passado, mas continua a prover grande parte do imposto base da economia Chilena e é um grande produtor de renda. E uma eficientemente corrente companhia de cobre nacional.Mas a confiança na exportação de cobre significa que você está vulnerável ao declínio nos preços das commodities.
As outras exportações Chilenas como se diz, frutas e vegetais que são adaptados ao mercado Americano por causa das diferenças de estações – que também é vulnerável.E eles não tem feito muito em desenvolver a economia além dos matriais de exportação crus. – um pouco mas não muito. O mesmo pode ser dito sobre os outros países bem sucedidos do momento. Você olha para as taxas decrescimento do Brasil e Peru, eles são fortemente dependentes da exportação de soja e outros produtos agrícolas e minerais; não é uma base sólida para uma economia.
Uma grande exceção para isto são Coréia e Taiwan. Eles eram países muito pobres. Coréia do Sul no final dos anos 50 era provavelmente no nível de Ghana hoje em dia.Mas eles se desenvolveram ao seguir o modelo Japonês – violando as regras do FMI e economistas ocidentais e se desenvolvendo tanto quanto as países ocidentais se desenvolveram, através de um direcionamento substancial e envolvimento do setor do estado. Então a Coréia do Sul, por exemplo construiu uma grande indústria de aço, uma das mais eficientes do mundo, ao simplesmente violar os avisos do FMI e do Banco Mundial, que disseram que isso era impossível. Mas eles o fizeram com intervenção do estado, direcionamento de recursos e também restringindo a saída de capital. Saída de Capital é um dos principais problemas para um país em desenvolvimento, e também para a democracia. Saída de Capital podia ser controlada pelas regras da Bretton Woods, mas se abriu nos últimos 30 anos. Na Coréia do Sul você podia levar pena de morte por saída de capital. Então sim, eles desenvolveram uma economia bem sólida, assim como Taiwan. China é uma história a parte, mas eles também violaram as regras radicalmente, e é uma história muito complicada como isso tudo terminou. Mas esses são fenômenos principais da economia.
Investimento do Governo
DOSSANI:Você acha que a crise do momento vai oferecer a outros países a oportunidade de seguir os exemplos da Coréia do Sul e Taiwan?
CHOMSKY:Bem, poderíamos citar o exemplo dos Estados Unidos durante o seu principal período de crescimento – ao final do século XIX e começo do século XX – os Estados Unidos eram provavelmente o país mais protecionista do mundo. Nós tivemos barreiras protecionistas bem altas, e extraímos investimento interno, mas investimento privado teve somente uma função de suporte. Tome a indústria do aço como exemplo. Andrew Carnegie construiu a primeira corporação bilionária ao alimentar o setor do estado – construindo embarcações navais etc – isto é Carnegie o grande pacifista. O período de crescimento econômico mais afiado da história dos EUA foi durante a Segunda Guerra mundial que foi basicamente um semi-comando econômico e a produção industrial mais que triplicou. Aquele modelo nos tirou da depressão, depois do qual nós nos tornamos de muito longe a maior e melhor a principal economia do mundo. Depois da Segunda Guerra Mundial, o período de substancial crescimento econômico que eu mencionei ( 1948-1971) foi grandemente baseado na dinâmica do setor do estado e isto continua sendo verdade.
Vamos tomar a minha própria instituição, MIT. Eu estou aqui desde 1950, e você pode ver isto em primeira mão. Nos anos 50 e 60, MIT foi fortemente financiada pelo Pentágono. Haviam laboratórios que classificavam trabalho da guerra , mas o campus por si só não estava fazendo o trabalho da guerra. Ele estava desenvolvendo as bases da economia eletrônica moderna: computadores, a Internet, microeletrônicos, e por aí vai..Era tudo desenvolvido por debaixo da cobertura do Pentágono.A IBM estava aqui aprendendo como mudar de cartões de perfuração para computadores eletrônicos. Eu cheguei a um ponto nos anos 60 que a IBM era capaz de produzir os seus próprios computadores, mas eles eram tão caros que ninguém poderia compra-los então por isso, o governo os comprou. De fato, obtenção é a principal forma de intervenção do governo na economia para desenvolver a estrutura fundamental que vai por fim levar ao lucro. Já foram feitos alguns bons estudos técnicos neste assunto. Dos anos 70 até hoje, a fundação de MIT tem virado-se do Pentágono em direção ao Instituto Nacional de Saúde e instituições do Governo relacionadas. Por quê? Porque o ponto alto da economia está mudando de uma base eletrônica para uma base biológica. Então agora o público tem que pagar os custos da próxima economia através de outras instituições estatais. Agora, mais uma vez, esta não é a história toda, mas é parte substancial da história.
Haverá uma mudança em direção para mais regulamentações por causa da catástrofe corrente, e por quanto tempo eles podem manter os pagamentos de bancos e instituições financeiras não é muito claro. Haverá mais gastos em infraestrutura certamente, porque não importa onde você esteja no espectro econômico, você se dá conta que é absolutamente necessário. Serão necessários alguns ajustamentos no déficet da balança comercial, o que é dramático significando menos consumo aqui, mais exportação e menos empréstimos.
E terá que haver alguma maneira de se lidar com o elefante no armário, um dos principais tratamentos dados à economia Americana, o aumento de custos nos tratamentos de saúde. São frequentemente mascarados como “direitos” então eles podem se enrolar com a Segurança Social, como parte de um esforço para minar a Segurança Social. Mas de fato a Segurança Social é bem feita; provavelmente mais bem feita que nunca, e qualquer problemas que esta tenha poderiam facilmente ser resolvidos com pequenos concertos. Mas Medicare é gigantesco, e seus custos estão subindo demais, e isto é principalmente por causa do sistema de saúde privatizado que é altamente ineficiente. É de alto custo, e tem resultados muito pobres .Os EUA têm o dobro de custos per capita que qualquer outro país industrializado, e possui também um dos piores resultados. A principal diferença entre o sistema dos EUA os outros é que este é tão fortemente privatizado, levando a imensos custos administrativos, burocratização, custos com fiscalização e etc. Agora isto vai ter que ser encarado de algum maneira, porque é uma crescente carga na economia e é gigante; irá sobrepujar a verba federal se as tendências correntes persistirem.
América do Sul
DOSSANI: A crise corrente vai abrir espaço para que outros países sigam objetivos de desenvolvimento mais significativos?
CHOMSKY: Bem, isso é o que tem acontecido.Uma das áreas mais excitantes do mundo é a América do Sul. Pelos últimos 10 anos têm havido alguns movimentos significativos em direção à independência pela primeira vez desde as conquistas Portuguesa e Espanhola. O que inclui passos em direção à unificação, o que é crucialmente importante, e também começando a aderessar os seus imensos problemas internos. Há um novo Banco do Sul, com base em Caracas, que ainda não foi realmente tomado, mas tem seus prospectos e é apoiado por outros países também. MERCOSUL é uma zona de comércio do cone Sul. Recentemente, a uns seis ou oito meses atrás, uma nova e integrada organização se desenvolveu, UNASUR, a União das Repúblicas da América do Sul, e esta já tem sido efetiva. Tão efetiva que não foi relatada nos Estados Unidos, presumidamente por ser muito perigosa. Então quando os EUA e as tradicionais elites que regulamentam a Bolívia começaram a se mover em direção a um certo tipo de movimento secessionista para tentar minar a revolução democrática, isso tomou lugar por lá, e quando se tornou violenta, como aconteceu, houve um encontro da UNASUR Setembro passado em Santiago, que emitiu uma forte indicação defendendo o presidente eleito, Evo Morales, e condenando os esforços para minar o sistema democrático. Morales respondeu agradecendo-os pelo suporte, e também dizendo que esta era a primeira vez em 500 anos que a América do Sul começa a tomar seu próprio destino em suas próprias mãos. Isto é significativo; tão significativo que eu nem acho que tenha sido relatado por aqui. Apenas o quão distantes estes desenvolvimentos podem ir, ambos lidando com problemas internos e também com os problemas de unificação e integração, nós não sabemos, mas os desenvolvimentos estão tomando lugar. Há também Sul-Sul relações se desenvolvendo, por exemplo entre Brasil e África do Sul. Isto novamente quebra o monopólio imperial, o monopólio dos EUA e dominação Ocidental. A China é um novo elemento no cenário. Negociações e investimentos estão aumentando, e isto dá mais opções e possibilidades para América do Sul. A corrente crise financeira pode oferecer oportunidades para isto aumentar, mas talvez vá ao contrário. A crise financeira causa com certeza prejuízos – tem que causar prejuízos- os mais pobres nos países mais fracos e isto deve reduzir suas opções. Estes são reais assuntos aos quais vai depender em se os movimentos populares podem tomar controle dos seus próprios destinos, para pegar emprestada a frase de Morales. Se eles podem, sim, há oportunidades.
Este é um artigo encontrado originalmente em;
http://www.zcommunications.org/znet/viewArticle/20595