segunda-feira, 17 de junho de 2013
Solidariedade a todos na Turquia, e em todos os lugares do mundo aonde se luta contra o Totalitarismo!
SOLIDARIEDADE AO POVO NA TURQUIA, NO BRASIL E A TODOS QUE ESTIVEREM LUTANDO PELA LIBERDADE EM QUALQUER LUGAR DESTE PLANETA
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
Todxs concordam, isto está prestes a explodir!
Todxs concordam, isto está prestes a explodir!
Devemos tirar também algumas lições dessa situação lamentável. Algo que ficou bem claro aqui, é que algumas formas de autoritarismo não passam pelo crivo sagrado da esquerda: o econômico. Simplesmente substituir o modo-de-produção capitalista e o Estado pela Autogestão e Socialismo Libertário, respectivamente, não é o suficiente. A heterossexualidade como regime político nos mostra isso, ao criar mais um algoz e uma sobrevivente. Trata-se aqui da ordem da produção de desejos, das subjetividades e das relações cotidianas: é exatamente aqui que começa também a resistência!
E mais, não devemos encarar isso como um ato de “um monstro”, um “surto psicótico” e muito menos como uma “briga de casal”, isoladas no espaço-tempo, entre uma vida relativamente serena. Aqueles que agridem companheirxs ou os que estupram mulheres ou espancam travestis e homossexuais não são “monstros” que “surtaram”, são um fruto ‘normal’ e previsível de uma sociedade que produz e regula - normatizando, normalizando, patologizando, marginalizando e excluindo - performances de gênero que reproduzem padrões binários de masculinidade e feminilidade e de heterossexualidade, em outras palavras, são fruto da heterossexualidade como regime político. Podem ser o seu vizinho, o seu pai, a sua chefe, ou mesmo seu companheiro de coletivo.
Em primeiro lugar, queremos aqui, mesmo que através das mediações tecnológicas e simbólicas (com todas suas friezas e contradições), prestar solidariedades e apoio x companheirx Paula. Imaginamos (sim, não temos a falsa pretensão de se colocar no lugar de umx sobrevivente. Somente elx sabe o que passou!) o quão difícil deve ser ter de lidar com esse tipo de situação. Vergonha e medo da reação de parentes, amigxs ou mesmo da polícia, ao fazer o B.O. (Aliás, lidar com a polícia em si, já é um caso a parte). Ter de se explicar a todo momento, já que a Cultura de Estupro faz um verdadeiro escárnio dx sobrevivente: colocando sempre em cheque a veracidade de seu discurso. Ter de lidar com possível represálias e etc.
Sabemos que estamos distantes subjetiva e geograficamente, entretanto, achamos necessário mostrar que, mesmo que minimamente, estamos dispostxs a ajudar, nem que com palavras; aliás, não negamos o poder das palavras, ainda mais numa sociedade onde as pessoas parecem não compactuar de uma linguagem comum. Falamos aqui, a linguagem dxs subalternxs, excluidxs, submetidxs, espancadxs, ridicularizadxs, desacreditadxs; a linguagem que combate a heterossexualidade como regime político (e todas as formas de dominação e assujeitamento) no cotidiano; a linguagem da solidariedade e do apoio; falamos uma linguagem menor.
Mais preocupados com o falatório do que com qualquer outra coisa, os R2-D2 lançam-se, acotovelando-se para ver quem dá o comentário mais ácido pelos seus Blueberrys: “Quero ver o que os amigos dele vão dizer agora!” “Eu sabia, ele sempre foi um babaca”. Parece que a preocupação em apoiar x sobrevivente e a responsabilização do agressor é só um mero acaso, um detalhe que se responde assim que alguém te chama atenção no mural do Fachobuk. E xs oportunistas também aparecem nessa hora: todxs querem ser xs bastiões do Apoio. Existem até aqueles que fecham os olhos para agressões que acontecem ao seu lado, com amigos agredindo suas namoradas, mas que agora, quando é em outra cidade, outro estado, não perdem tempo em prestar sua “solidariedade” e denunciar o agressor! O falatório, assim como o oportunismo é um fenômeno pequeno-burguês, como diria Walter Benjamim, e héterocapitalista, acrescentaríamos nós. Ele não fomenta discussões, não gera apoio e nem oferece soluções, somente garante diversão pra classe média branca, cis e heterossexual e exatamente por isso deve ser combatido!
É extremamente necessário que nesses momentos, nos foquemos no apoio x sobrevivente. Sua palavra tem de ser – acima de qualquer coisa – encarada como verdade, se queremos de fato escapar das reterritorializações da Cultura de Estupro. Apoio psicológico, subjetivo e afetivo é essencial para a sobrevivente e todos os meios são encorajados (especialmente por parte de amigxs): carinhos, telefonemas, cartas, acompanhar em idas a delegacia ou passeios para relaxar, até mesmo presentear com spray de pimenta e facas etc. Aquelxs que estão próximos do agressor devem tratar de responsabiliza-lo e esse processo de responsabilização é amplo e demorado. Fazer o agressor, em primeiro lugar, compreender as consequências materiais que sua agressão heterossexista provocou nx sobrevivente e à sua volta é o primeiro passo. Daquelxs que não são próximos dx agressor a responsabilização vem de outras formas: denúncias, cartas abertas, escrachos, atos, até mesmo uma ação direta, dependendo do caso. Obviamente, se há alguma proximidade com a sobrevivente, é interessante que se consulte a opinião delx, para saber até que ponto elx concorda com os métodos e com o tipo de ação que será levada a cabo.
Não temos a pretensão nenhuma aqui. Somente sentimos a necessidade de expor nossa solidariedade e apoio para com x sobrevivente, fazer algumas reflexões mais gerais sobre o ocorrido e compartilhar alguns possíveis caminhos para ajudar a lidar com essa situação. É importante que pensemos como podemos ajudar afetiva e materialmente nesse tipo de situação. É preciso que pensemos em nossas relações cotidianas, e avaliemos se em alguma medida, estamos reproduzindo performances heterossexistas que levam a situações como essas, de modo que evitemos agressões como essas. É preciso que cuidemos de nós, de nossxs amigxs, companheirxs, de nossa comunidade e de nossa manada! “Nenhuma agressão ficará sem reposta”, mais do que um jargão empoderador, deve funcionar como um propulsionador político, que estimula ações concretas de apoio, responsabilização e de combate anti-heterossexista, aqui e agora!
Paula, conte conosco!!!
Heteronormais, nos vemos nas ruas...
Atencionsamente:
Departamento de Terrorismo Performático de Gênero
Coletivo Bonnot
segunda-feira, 28 de maio de 2012
A próxima edição do evento "Margens da Cidade: das favelas às ocupações urbanas" contará com a participação de: Luiza: Quilombo das guerreiras Jorge: Vila Recreio II Mauricio Campos: Rede contra a violência. Será no Instituto de Medicina Social - IMS da UERJ, no sétimo andar, sala 7001. Dia 06 de junho de 2012 às 18hs. Grande abraço e esperamos tod*s. |
sexta-feira, 30 de março de 2012
sexta-feira, 16 de março de 2012
Civilização e identidade
fertilidade/fecundidade. Nestas aparecem figuras que se assemelham a uma mistura de seres humanos com animais, figuras de animais enormes e figuras do que poderia se chamar de Deusa-mãe. Por vezes essa aparece em posições sexuais com animais ou mesmo seres híbridos. Tais pinturas, além de mostrar o desenvolvimento de um pensamento abstrato nos seres humanos “fora da história”, permitem a visualização de uma relação na qual é difícil separar o “eu” ser humano do “outro” animal/floresta. Uma relação na qual vê-se, por exemplo, uma relação entre humano e animal não humano de temor, enfrentamento, mas também mistura, apreciação, reflexo.
Com o Neolítico, as figuras se transformam: os animais não humanos, agora domesticados, passam a um papel marginal. Caracterizam-se de maneira efetiva deuses, não só se assemelhando a seres humanos, mas a homens. O pensamento abstrato civilizatório se constrói,
também, por meio da construção de uma identidade e da afirmação de uma identidade de homem civilizado. Aquele mesmo que se assemelha aos deuses. O conjunto de deuses especializa-se. Cada gérmen de cidade possui seus deuses específicos, por vezes o combate entre deuses torna-se o combate efetivo entre cidades. A abstração e a realidade imbricam-se. Os seres humanos cada vez mais se especializam. Ou seja, a forma igualitária de relação entre integrantes de um bando e suas atividades é suprimida por identidades/especialidades. Não somos todxs caçadorxs-coletorxs, “sou” sacerdote, “sou” agricultor, “sou” soldado, “sou” artesão, “sou” rei. Importante salientar que as especialidades/identidades não se afirmam horizontamente, mas se impõe violentamente uma sobre as outras. Afinal, quando se estipula o “eu” estipula-se o “outro”.
Tal construção de identidades assume um caráter multilinear. A construção da identidade civilizatória é sempre uma submissão a uma força externa e uma submissão a uma suposta essência interna. Aquele que se assume como rei, é compreendido como rei, pois é submetido à identidade “rei” pelos deuses. (Apesar de poder em alguns casos se assemelhar a um deus, o rei, hierarquicamente, ainda é submisso a esses). Aquele que se assume “súdito”, é compreendido como súdito pelo rei e pelos deuses. As identidades/especialidades se hierarquizam violentamente por todo o desenvolvimento do que conhecemos como civilização. Mas em algumas comunidades o sobrenatural ainda permite afirmar que depois da vida aquele que é súdito e aquele que é rei podem habitar o mesmo terreno dos mortos. Um “paraíso” que assemelhasse a uma recompensa pela vida de súdito e, ao mesmo tempo, um “paraíso” que legitima a subordinação.
Passa-se assim de forma grosseira para os tempos atuais, nos quais as identidades se multiplicam, assim como se multiplicam as formas de coloca-las expostas ao julgamento ou apreciação de outras identidades. Mesmo nos agrupando sob “comunidades” (“somos” ciclistas de fixa, “somos” fora-do-eixo, “somos” isso, “somos” aquilo) o que ocorre ainda é uma submissão a uma certa identidade e sua respectiva afirmação sobre outras identidades. Mesmo por meio de uma identidade “comum” o comum se perde. Mesmo existindo uma liberdade de escolher “quem eu sou” ainda estamos presos à necessidade de dizer “eu sou”.
A continuidade do papel da identidade no Neolítico, nos Impérios Despóticos, nas cidades gregas, aquele que liga o “eu” interior ao “eu” no mundo social, ou seja, aquele papel de definir a partir de quem “sou eu” o meu status social e meus respectivos méritos mantem-se vivo nos tempos atuais. O que diferencia nossos tempos atuais é a multiplicação de formas de afirmação/submissão ao “eu”. Exemplo são as diversas redes sociais e os diversos dispositivos que podem nos manter conectados quase que permanentemente a essas identidades. Nesse caso, em tempos de deus-capitalismo, nossas identidades tornam-se diretamente cifras para o rei-facebook.
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
Pela Moradia
Sítio que faz convergir as diversas informações sobre a luta por moradia no Brasil. De grande importância para verificarmos que o que aconteceu em Pinheirinho, por exemplo, acontece também no Rio, em Salvador, em Porto Alegre e por aí vai. O que demonstra que a resistência urbana deve ser local, mas solidária e integrada às outras lutas regionais.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Atividade sobre gentrificação e as transformações urbanas no Brasil em Rouen (França)
do poder privado e público na gestão da cidade do Rio de Janeiro. As
transformações urbanas consequência das Olimpíadas e a Copa do Mundo
são apenas um exemplo dentre muitos: como as UPPs, a revitalização da
zona portuária, o choque de ordem, entre outras. Um processo amplo de
expulsão dos pobres e gestão da cidade visando o mercado financeiro
global. Além de apresentar essas estratégias esperamos poder trocar
ideias sobre os processos de gestão urbana e gentrificação e as formas
de resistência existentes e possíveis.
domingo, 12 de fevereiro de 2012
O caso Pinheirinho
O terreno no qual foi construída a comunidade Pinheirinho faz parte da massa falida da empresa Selecta de Naji Nahas. Inicialmente, para tratar de tal caso, precisa-se desfazer o mito de igualdade de oportunidades. Principalmente em um país historicamente marcado pelo colonialismo e pela escravidão como o Brasil. Peter Singer expõe que “a igualdade de oportunidades é praticamente irrealizável”, devido às diferenças de capacidades, contextos, histórias, e deixa clara a necessidade de “tratamento preferencial a membros de grupos menos favorecidos” (Singer 2009, 54). No caso tratado temos os interesses de famílias que buscaram ocupar uma área abandona para construir suas moradias na periferia da cidade de São José dos Campos e do outro lado temos os interesses de um especulador financeiro que chegou ao país com “ao menos 50 milhões de dólares para investir” (Carta Capital 2012). No conflito entre um interesse fundamental, a moradia, de milhares de pessoas e interesses financeiros do dono de uma empresa falida, prevaleceram esses últimos.
Por quase uma década, mais de cinco mil pessoas moravam na comunidade Pinheirinho. No dia 22 de janeiro de 2012. A operação com mais de mil indivíduos da polícia militar do estado de São Paulo e da guarda municipal da cidade de São José dos Campos se iniciou às seis da manhã de um domingo. Não só sem aviso prévio, mas em desrespeito a um acordo prévio que adiava a reintegração de posse e a uma decisão da Justiça Federal contra a desocupação. A operação deu-se com a utilização de bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e há relatos de tiros de armas de fogo, assim como de morte de moradores.
Diversos relatos, matérias, fotos e vídeos difundidos pela rede de computadores expõem a desproporção da ação policial, que contou com helicópteros e com a tropa de choque. Do outro lado, pessoas correndo com alguns poucos pertences, tentando se proteger dos ataques. Mesmo a anterior elaboração para alguma resistência por parte das pessoas moradoras, que se constituía por materiais improvisados, como galões de plásticos e antenas transformados em escudos, possuía um valor simbólico maior do que prático, tendo em vista que não podia se comparar aos aparatos não letais e, como visto em vídeos e relatado pelos presentes no desalojo, letais da polícia. Além desse fato, tal resistência não se deu efetivamente. Um acordo que suspendia a reintegração de posse por 15 dias - conciliado entre advogados das pessoas moradoras de Pinheirinho, representantes políticos federais e estaduais, e representantes da massa falida da empresa - tranquilizou momentaneamente as pessoas, desestruturando uma possível resistência e incidindo, às seis horas da manhã de um domingo chuvoso sem avisos prévios, sobre as famílias que residiam no local. “O elemento surpresa foi o sucesso da ação, segundo a PM” (Estadão 2012).
A urgência da reintegração de posse não foi justificada por nenhuma das instâncias envolvidas. Divulgado em sítio virtual de notícias (G1 2012), o governador de São Paulo afirmou que não havia outra opção senão acatar e executar a decisão judicial: “A decisão é uma decisão judicial, que a polícia é requisitada para fazer a execução”. A afirmação aplica à situação um tom meramente prático, ou seja, em detrimento ás questão ético-políticas imbricadas no caso. O prefeito da cidade de São José dos Campos afirma em vídeo divulgado no sítio virtual da prefeitura, originalmente publicado virtualmente por sítio de notícias (Vnews 2012), que existem “só 250 famílias em abrigamento”. Como também que “o número é de 2850 pessoas e não de 8000 como eles [movimento social] disseram esses anos todos”. Afirmações que parecem buscar uma amenização dos fatos por meio da redução do número de pessoas atingidas, acabam por demonstrar a desproporção ainda maior da ação da polícia estadual e municipal.
A tentativa dupla de amenizar as ações governamentais e desqualificar o movimento social se desenvolve no discurso do prefeito. Sobre a discrepância dos números apresentados pelo movimento social e parte da mídia ele afirma que “como era um gueto no qual ninguém podia entrar ninguém podia conferir esse número”. Alastra-se a partir de tal discurso aquele elitismo de defesa das áreas tidas como civilizadas, ou seja, “castelos neo-feudais, [...] enclaves fortificados” (Santos 2010, 45) das classes privilegiadas, na qual a circulação é controlada, mas com o objetivo de proteger aqueles indivíduos ricos dos conflitos urbanos, esses que as classes mais pobres são obrigadas a enfrentar.
Essa tentativa de desqualificação não tem como origem apenas as instâncias oficiais envolvidas, mas também a mídia tradicional. Em blog vinculado à revista Veja, sugere-se que existia uma “milícia ideológica” (Azevedo, 2012) que dominava área da comunidade. Sem nenhuma fonte exata ou relato específico o autor do blog se coloca ao lado da “verdade”: “a verdade liberta, sempre. A mentira mata em silêncio”. Importante salientar, que o título do texto postado é “Você não verá na imprensa politicamente correta”. Tal título se compreende ao ler alguns artigos publicados na revista Veja pelo autor do blog. Termos como “esquerdopata”, “esquerdismo bocó”, “ideólogo” repetem-se, assim como “petistas”. Torna-se explicita a posição do autor como “oposição” na tradicional batalha entre os que estão no poder e os que querem o poder. Tal posição coloca-o na situação de “provocador”, antes figurada pelos atuais governantes. Ou, como já mostrado, daquele que supostamente está ao lado da verdade, não da ideologia. Importante salientar que tanto esquerda quanto direita mantêm-se vivas devido à democracia representativa, aquela na qual os indivíduos não podem tomar decisões políticas efetivas e diretas (como no caso de uma ocupação), mas meramente podem optar por um político profissional para representá-los. Na tradicional batalha entre esquerda e direita, entre políticos e ideólogos profissionais de ambos os lados, a população acaba subordinada e suas lutas tornam-se plataformas partidárias, ao serem criticadas ou mesmo defendidas. Dessa forma, ressalta-se que a defesa dos interesses das pessoas moradoras da comunidade Pinheirinho não está associada diretamente à legitimação de todos os grupos e práticas presentes no local. “A diversidade moral define a condição humana” (Engelhardt 2009, 26). O moralmente ilegítimo encontra-se em grupos ricos e pobres, condomínios fechados na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro ou em Alphaville em São Paulo, ou nas favelas e ocupações urbanas. A ilegitimidade de algumas ações, como o suposto pagamento a uma “milícia ideológica”, não torna o interesse por moradia ilegítimo. Como também não torna ilegítimo o ato de adentrar em uma área abandonada, sem cumprir nenhuma função social, e solucionar o problema de moradia de milhares de pessoas.
Ao tentar não personificar o caso sob a figura do especulador envolvido em fraudes e corrupção, ou mesmo não remeter à infrutífera batalha entre esquerda e direita pelo controle de um sistema político no qual a defesa dos interesses da população pobre não é questão relevante, o que se apresenta é o modelo de cidade global. Aquele que expulsa de suas moradias os grupos mais suscetíveis, ou seja, os grupos mais pobres, de acordo com interesses financeiros de grupos privilegiados. O caso de Pinheirinho pode ser compreendido como o mais próximo do extremo dentre diversos casos, como o do bairro da Luz em São Paulo e das ocupações e favelas desalojadas e parcialmente removidas no Rio de Janeiro.
Os casos citados possuem em comum diversas denúncias de inconstitucionalidade e violação de direitos humanos, mas seu desenvolvimento é mantido. Tais casos exemplificam a formação do campo: espaço de suspensão do ordenamento normal e a “materialização do estado de exceção” (Agamben 2002, 181). Sobre o campo “qualquer questionamento sobre a legalidade ou ilegalidade daquilo que nele sucede é simplesmente desprovido de sentido” (Id, 177). Ele está fora do ordenamento jurídico normal, mas como espaço no qual o estado de exceção é permanente, o que o comanda é a decisão soberana sobre as vidas presentes nesse campo. Seus soberanos provisórios são os policiais com seus sprays de pimenta, bombas de efeito moral, armas não letais e letais.
O caso Pinheirinho é um exemplo efetivo de campo. Nele “se cometam ou não atrocidades não depende do direito, mas somente da civilidade e do senso ético da polícia que age provisoriamente como soberana” (Id, 181). Nesse sentido, a imprensa foi impossibilitada de entrar na comunidade durante o processo de desalojo. Segundo um membro da polícia militar em vídeo divulgado pelo sítio virtual Passa Palavra tal impedimento se deu por “questão de segurança” 14. Dessa forma, busca-se a instituição de um espaço no qual o que se comete por meio da decisão soberana policial não repercute na estrutura política “democrática”. No entanto, os vídeos da tamanha desproporção da ação policial em ataques nas zonas de triagem criadas pela própria prefeitura e nos abrigos improvisados, assim como os vídeos feitos pelas pessoas dentro da comunidade, expuseram o cerne da democracia representativa brasileira, aquela que se apóia em um poder soberano, que decide sobre vida e morte das pessoas.
3
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Uma carta de alguns anarquistas
Caros ocupantes,
Uma carta de alguns anarquistas (1)
Tradução: Hurrah: Célula Anarquista Anti-Civilização;
Coletivo Bonnot e
Multidão: uma multidão de lutas(2)
Apoio e solidariedade: Nós ficamos inspirados com a ocupação de Wall Street e nos outros lugares pelo país. Finalmente as pessoas estão tomando as ruas novamente! O “momento” que envolve essas ações tem o potencial de revigorar o protesto e a resistência nesse país. Esperamos que essas ocupações cresçam tanto em número quanto em conteúdo, e que também faça o seu melhor pra contribuir nessa tarefa.
Porque vocês deveriam nos ouvir?: resumindo, porque nós estamos nessa há muito tempo. Nós passamos décadas lutando contra o capitalismo, organizando ocupações e tomando decisões por consenso. Se esse novo movimento não aprender com os erros dos movimentos anteriores nós corremos o risco de repeti-los novamente. Nós resumimos aqui nossas lições conseguidas a duras penas.
Ocupações não tem nada de novo: a terra onde estamos é um território ocupado. Os EUA é fundando sob o extermínio de povos indígenas e pela colonização de suas terras, sem mencionar séculos de escravidão e exploração. Para que uma contra-ocupação tenha significado, deve começar a partir dessa história. Melhor ainda, deve incorporar a história da resistência, desde a auto-defesa indígena, passando pelas revoltas dos escravos, pelos vários movimentos operários e anti-guerra até o atual movimento anti-globalização.
Os “99%” não é um corpo social só, mas vários: alguns ocupantes apresentaram uma narrativa, na qual os “99%” é uma massa homogênea. Os rostos que tentam representar a “massa comum” frequentemente se parecem suspeitamente com os hegemônicos cidadãos classe média, veneradores de leis e brancos que costumamos ver nos programas de televisão, ainda que essas pessoas sejam uma minoria no conjunto da população.
Embranquecer nossa diversidade é uma falha. Nem todo mundo está acordando agora, pela primeira vez para as injustiças do capitalismo; alguns grupos tem sido alvo das estruturas de poder por anos ou gerações. Cidadãos de classe média, que somente agora estão perdendo o seu padrão social podem aprender muito com aqueles que estão sendo vítimas das injustiças há muito mais tempo.
O problema não é somente um bando de “maçãs podres”: a crise não é o resultado da ganância de alguns investidores financeiros; é a consequência inevitável de um sistema econômico que recompensa competições assassinas em todos os níveis sociais. O capitalismo não é um estilo de vida estático, mas um processo dinâmico que consume tudo, transformando o mundo em lucros e escombros. Agora que tudo foi incendiado, o sistema está entrando em colapso, deixando até mesmo os seus parceiros iniciais ao relento. A resposta não é voltar a um estágio anterior do capitalismo – voltar ao padrão ouro, por exemplo; isso não somente é impossível; esses estágios anteriores também não beneficiavam os “99%”. Pra sair dessa bagunça, nós temos que descobrir novas formas de nos relacionar entre si e com o mundo a nossa volta.
Não podemos confiar na polícia: eles podem ser “trabalhadores comuns”, mas seu trabalho é defender os interesses das classes dominantes. Enquanto eles continuarem com vínculos empregatícios como policiais, não podemos contar com eles, independente do quão amistosos eles possam ser. Os ocupantes que ainda não sabem isso, aprenderão logo, assim que eles ameaçarem a estabilidade da riqueza e do poder, na qual nossa sociedade se baseia. Qualquer um que insista que a polícia exista pra servir e proteger, viveu uma vida de obediência e privilégios.
Não fetichize a obediência à lei: leis servem pra proteger os privilégios dos ricos e poderosos; obedece-las não é necessariamente moralmente certo – pode até mesmo ser imoral. A escravidão era legal. Os nazistas também tinham leis. Temos de desenvolver uma consciência forte para fazermos o que nós achamos que é certo, independente das leis vigentes.
Para ter uma diversidade de participantes, um movimento deve criar espaços para diversidade de táticas: é autoritário e egocêntrico achar que você sabe o que cada um deve fazer para melhorar o mundo. Denunciar os ouros somente mune as autoridades com legitimidade, divide e destrói o movimento como um todo. Pensamento crítico e debates impulsionam o movimento pra frente, mas autoritarismos atrofia-o. O objetivo não deve ser convencer todxs(3) a adotar uma tática determinada, mas sim descobrir como abordagens diferentes pode ser mutuamente benéfico.
Não suponha que aqueles que quebram a lei ou confrontam a polícia são agentes provocadores: muitas pessoas têm boas razões para estarem com raiva. Nem todo mundo está conformado com o pacifismo legalista; algumas pessoas ainda se lembrar como se defender por si mesmas. A violência policial não se dá só com a intenção de nos provocar, mas com a intenção de nos ferir e assustar, nos deixando no imobilismo. Nesse caso, auto-defesa é essencial.
Supor que aquelxs, no confronto com as autoridades estão, de alguma forma, de complô com as autoridades não somente é ilógico – deslegitima o espírito necessário pra transformar o status quo, e descarta a coragem daquelxs que estão preparadxs para tal tarefa. Essa alegação elitista é típica de pessoas privilegiadas, que foram ensinadas a obedecer autoridades e temer qualquer um que os desobedeça.
Nenhum governo – quer dizer, nenhum poder centralizado - irá de bom grado, colocar os interesses da população acima dos interesses dos poderosos: é ingênuo ter esperanças nisso. O centro de gravidade desse movimento tem de ser nossa liberdade e autonomia, e o apoio mútuo que pode sustenta-las – não o desejo por um poder centralizado “responsável’. Tal coisa nunca existiu; mesmo em 1789, os revolucionários tocavam uma “democracia” com escravos, além de ricos e pobres.
Isso significa que o importante não é só fazer demandas em cima de nossas leis, mas construir um poder para realizarmos nós mesmxs nossas demandas. Se fizermos isso com eficiência, os poderosos terão de levar nossas demandas a sério, nem que seja na tentativa de atrair nossa atenção ou de nos cooptar. Nós construímos poder desenvolvendo nossa própria força.
Da mesma forma, inúmeros movimentos passados aprenderam da pior forma que estabelecendo sua própria burocracia, ainda que “democrática” somente minamos nossas metas originais. Não devemos dar autoridade à novos “líderes”, nem mesmo à estruturas de tomadas de decisão; devemos encontrar formas de defender e estender nossa liberdade, enquanto abolimos as desigualdades que nos impõem.
As ocupações prosperarão pelas ações que tomarmos: nós não estamos aqui somente para “falar a verdade pro poder”, enquanto somente falarmos, o poder se torna surdo à nossas vozes. Vamos criar espaço para iniciativas autônomas e organizações de ação direta que confrontam as fontes de desigualdades e injustiças.
Obrigado por ouvir/ler, planejar e agir. Talvez os seus sonhos se realizem.
Notas:
(1) Traduzido da Crimethinc ex-workers collective, disponível em: http://www.crimethinc.com/blog/2011/10/07/dear-occupiers-a-letter-from-anarchists/
(2) hurrah@riseup.net; coletivobonnot@gmail.com
(3) Substituímos os pronomes de gênero (“o” e “a”) por “x”. Poderíamos colocar “o/a”, escrever as palavras nas duas versões ou mesmo colocar a “@”, mas ainda sim estaríamos falando a língua dos binarismos. Acreditamos que o “x” é mais eficiente, por conseguir transpor as barreiras do binarismo heteropatriarcal, englobando não só as mulheres, mas também transexuais, travestis, intersex, queers e outrxs! (Nota da tradução).
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Para todas as pessoas que se perguntam sobre "Violência" e "Não-violência":
A violência é a medida da austeridade, violência é a chantagem da economia de merchandise, violência é não se casar porque não se tem dinheiro suficiente para alugar uma casa com a pessoa amada, violência é estar desempregado, ou trabalhar em empregos que se odeia, violência é não ter dinheiro para a comida do bebê, ou ter medo de trazer ao mundo um irmão para sua filha porque não se tem dinheiro para manter mais uma criança, violência é a T.V., e Hollywood, e a apatia das massas, violência é odiar sua própria vida, não poder cobrir suas necessidades básicas, perder seus amigos em noites sem fim na frente do PC porque você não tem dinheiro para sair de sua casa, violência é a privatização do Sistema de Saúde, Energia e Água, violência é ter 530 euros por mês por 9 horas de trabalho por dia, violência é não ter dinheiro para viajar para o outro lado do país para visitar seus pais, porque a companhia de transportes subiu os preços das passagens, ou porque a gasolina custa tanto, violência é quando não se tem o dinheiro para pagar o aluguel, violência é Trabalho&Dinheiro&Bancos&Empréstimos& o Parlamento que proteje os interesses privados, violência é a polícia e o exército que protejem a Indústria e a Bolsa de Valores, violência é ver a gente rica escrevendo comentários bobos na Internet sobre a sua luta, e vê-los a distância curtindo sua vida luxuosa em hotéis que você quer tacar fogo, restaurantes que você quer destruir, lojas que você quer tomar, e escritórios que você quer abandonar PARA SEMPRE!
EM TODOS OS LUGARES DO PLANETA!
NÃO VAMOS NUNCA NOS ENTREGAR!
GREVE GERAL SOCIAL!
A LUTA APENAS COMEÇOU!
QUANDO LUTAMOS, ESTAMOS LUTANDO POR NOSSAS VIDAS!
texto de Tasos Sagris/ Void Network
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Em tempos de deserto
quarta-feira, 2 de junho de 2010
De volta ao "Berço da Revolução"
Void Brasil agora volta de uma viajem que nem parece o mesmo mundo que Atenas...estávamos na nossa querida Chapada Diamantina, assistindo e participando da criação de um novo mundo. Um novo estilo de vida e relacionamentos estão sendo recirados em várias partes do Brasil, e desse nosso mundão...Por onde passamos, as idéias são praticamente as mesmas; " comprar uma terra em algum lugar fértil, e montar uma comunidade voltada para o meio ambiente, interconectividade e uma vida melhor para todos.
Um exemplo de que a coisa está mudando num ámbito coletivo foi o festival Nova Terra no Rio de Janeiro que reuniu tribos de todas as partes desde índios das mais variadas partes ao povo da Aldeia da Paz, Yogis, gente como a gente, tenda de permacultura, palestrantes internacionais, aonde se falava sobre tudo, principalmente sobre novas possibilidades e os problemas que enfrentamos para a reconstrução da vida da gente...ao final de cada dia é claro o festival era regado de música de qualidade dos mais variados estilos.
Depois de tudo voltar a Atenas e ver tanta ação ao mesmo tempo até deixa a gente tonto...o povo aqui parece que não para é nunca, neste tempo que tivemos uma vidinha muito relax no Brasil, outra parte do grupo foi aos Estados Unidos e realizou um tour enorme "We are an image from the Future" dando palestras sobre a insurreição na Grécia , promovendo eventos para integração dos jovens, chegando a certa altura a se dividir em dois grupos, podendo assim cobrir mais locais ,além disso, integrantes do grupo também participaram do festival Anarquista na Holanda.
Desde que chegamos aqui ( a uma semana) que não tem dia que atividades das mais variadas se passem em diversas partes de Atenas, começamos com o B-fest "Festival Internacional Antiautoritário" de 26 a 30 de Maio ( http://bfest.gr/ ) com direito a palestras variadas durante a tarde falando sobre várias das formas de controle na nossa sociedade, e crimes ediondos dos governos . Tivemos a presença de estudantes Americanos (falando sobre a ocupação de sua universidade na Califórnia e o movimento de resistência), de alguns participantes da coletiva Crimethink (também Americana, falava sobre os fim das ideologias e futuros eventos ), e demuitos outros. A noite mais uma vez música de alta qualidade desde o rock ao dub, psychedelic trance e hip hop. Dentre as várias atrações tivemos Arcana da França , Família Natural High, Athriom, Gloval Eye e Void Laboratory entre muitos outros...
Nos últimos fins de tarde a cena tem sido em Exarchia "3 Days in the Wolrd" no parque "auto organizado" que o próprio movimento criou, também regado a palestras e boa música...e muita, muita gente boa...Haja energia! Também desde a estória do barco com os palestinos que o exército israelense atacou, matou e sequestrou, muita gente daqui foi lá no consulado de Israel aqui em Atenas bater pé e exigir atitudes mais humanas. E estão lá agora, prestando solidariedade, exigindo uma postura mais descente deste governo, que está se tornando o pior governo do mundo...
E nesse próximo fim de semana como não podemos deixar de mencionar será a celebração dos 20 anos de Void Network. Grande evento com Mark Allen a ser postado a seguir. Neste mesmo fim de semana, outros 3 eventos de grande porte se realizarão na cidade fervilhante! Tudo é claro metodicamente preparado para fazer o público pensar, e encobrir os mais corajosos que desejem expressar , ou mesmo "causar" pela sua vontade de liberação por um mundo melhor para todos.
Devido a problemas técnicos com a Inrternet ainda não foi possível fazer o upload das fotos dos eventos, assim que a conexão permitir, essas serão postadas também.